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terça-feira, 20 de março de 2012
O vinho no gharb al-andaluz no período almôada
O vinho no período almôada
“Quantas noites rasgaste o véu das trevas
com um vinho resplandecente como um astro!
Servia-te um copeiro deligente de voz melodiosa
e alguém disse que o licor era feito das suas faces
e da fresca saliva da sua boca.
Vinho e copeiro eram duas luas cheias:
uma, que tu não receavas ver deitar-se,
servia diligentemente; a outra
estava inteiramente disposta a inclinar-se
para uma boca como para se deitar.
Quando bebias deliciosamente
os lábios da lua que se deitava
gozavas ao mesmo tempo dum beijo
daquela que se não deitava.”
Ibn Asside de Silves
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Sobre o vinho no Alcorão
1.
Numa das primeiras revelações, o vinho surge como uma oferta de
Deus, sendo identificado como um dos deleites do Paraíso: “Eis aqui
uma descrição do paraíso, que foi prometido aos tementes: Lá há rios
de água impoluível; rios de leite de sabor inalterável; rios de vinho
deleitante para os que o bebem; e rios de mel purificado; ali terão
toda a classe de frutos, com a indulgência do seu Senhor” (Alcorão,
XLVII, 15).
2.
Ainda que não se esqueçam os deleites do vinho, as revelações posteriores acentuam sobretudo os seus malefícios: “Interrogam-te a respeito da bebida inebriante e do jogo de azar; dize-lhes: Em ambos há
benefícios e malefícios para o homem; porém, os seus malefícios são
maiores do que os seus benefícios” (Alcorão, II, 219). Era apenas pela
perda das faculdades racionais, que o ébrio não deveria entregar-se à
oração: “Ó fiéis, não vos deis à oração, quando vos achardes ébrios, até
que saibais o que dizeis” (Alcorão, IV, 43).
3.
A associação com os jogos de azar reforçaria, no entanto, a visão do
vinho como um dos instrumento de Satanás: “Satanás só ambiciona
infundir-vos a inimizade e o rancor mediante as bebidas inebriantes
e os jogos de azar, bem como afastar-vos da recordação de Deus e da
oração” (Alcorão, V, 91). Como tal, os fiéis eram aconselhados a evitá-
-lo: “Ó fiéis, as bebidas inebriantes, os jogos de azar e as adivinhações
com setas, são manobras abomináveis de Satanás. Evitai-as, pois, para
que prospereis” (Alcorão, V, 90)
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O modo ambivalente como o vinho era olhado permite compreender
a tolerância que os juízes da altura mostravam para com os ébrios e os foliões,
desde que a sua conduta não suscitasse qualquer desacato.
Mais do que a bebida, era a embriaguez que se condenava.
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