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sexta-feira, 13 de julho de 2012

O guerreiro muçulmano e o cruzado cristão


   Um muçulmano e um cristão estavam lutando quando chegou o momento, para o muçulmano, de fazer suas orações, de sorte que ele, orgulhoso, pediu ao cristão que lhe concedesse uma trégua. O cruzado concordou, e o muçulmano, afastando-se, fez suas orações.
 Quando voltou, reiniciou-se o combate com renovado vigor. Pouco depois, por seu turno, o cruzado solicitou uma pausa para poder dizer as suas preces. Sendo-lhe atendido o pedido, ele também se afastou e, escolhendo um local apropriado, prosternou-se no pó diante do seu ídolo.
 Quando o muçulmano viu o adversário de cabeça baixa, disse a sós consigo: “Esta é a minha oportunidade de lograr a vitória”, e veio-lhe a ideia de golpeá-lo à traição.
 Mas uma voz interior recriminou-o: “Ó homem desleal, que pretendes trair o teu compromisso, é assim que manténs a tua palavra? O descrente não sacou da espada contra ti quando lhe pediste uma trégua. Não te lembras das palavras do Corão?: ‘Cumpre fielmente tuas promessas’? Visto que um infiel foi generoso contigo, não te mostres inferior a ele. Ele agiu bem, queres agir mal. Faze-lhe o que ele te fez, serás tu, muçulmano, indigno de confiança?”
 Conteve-se o muçulmano e torturado pelo remorso, viu-se banhado em lágrimas da cabeça aos pés. Quando o cruzado deu tento do seu pranto, perguntou-lhe a razão dele. “Uma voz celestial” explicou o muçulmano, “Censurou-me por não ter sido leal contigo. Vês-me neste estado porque fui vencido pela tua generosidade.”
 Ouvindo-o, o cristão despediu um grande grito e disse: “Já que Allah pôde mostrar-se favorável a mim, seu inimigo declarado, e censurar Seu amigo por deslealdade, como poderei persistir na infidelidade? Mostra-me os princípios do Islão para que eu possa abraçar a verdadeira Fé e, afastando de mim o politeísmo, adoptar os ritos da lei.
Oh, como deploro a cegueira que me impediu, até agora, de reconhecer um Mestre assim!”
Ó tu, que deixaste de procurar o verdadeiro objecto dos teus desejos e careces grosseiramente da fé que lhe é devida! Creio que virá o momento em que, na tua presença, o céu rememorará todos os teus actos, um por um.
                                                                                                    história sufi - Farid Ud-Din Attar
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